segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

SEMIFEUDALIDADE E LUTA POPULAR EM ALAGOAS: Alguns elementos político-ideológicos


As relações políticas e econômicas existentes na sociedade semifeudal alagoana são marcadas por “acordos” extraoficiais. Interessante perceber que estes assemelham-se ao antigo regime de vassalagem. No coronelismo, da semifeudalidade alagoana, convém chamar esta relação de apadrinhamento. O latifundiário que financia uma campanha eleitoral, comprando de votos para eleger seu representante direto dentro do velho Estado, é um exemplo de apadrinhamento político. Os empréstimos realizados com dinheiro do povo para salvar os latifundiários de suas crises financeiras, é um exemplo de apadrinhamento na economia.

O histórico marcado por repressões brutais contra as lutas populares em Alagoas favoreceu a existência deste apadrinhamento semifeudal também nas relações sociais. Quando as pessoas sentem-se agradecidas pela demagogia do sistema coronelista, mesmo tendo conhecimento que são exploradas e oprimidas por este regime atrasado, é um exemplo de apadrinhamento social.

Algumas das razões pelas quais o povo ainda não se mobilizar de forma combativa para destruir este sistema semifeudal são principalmente de origem político-ideológica. Político, devido ao oportunismo eleitoral dos partidos, movimentos e sindicatos que pregam um caminho de conciliação para solucionar as contradições antagônicas entre as classes sociais. Ideológico, devido a um histórico de violência estatal contra o povo pobre e a religiosidade que condena as lutas radicais.

Considerando que grande parte da população alagoana é submetida a uma péssima condição de ensino e aprendizado, a mídia burguesa ainda não interfere diretamente no pensamento da população alagoana. Mesmo que se desenvolva a educação e o senso crítico da população, ainda sim, esta mídia jamais poderá contribuir para o avanço da luta popular, pois é sustentada pelas velhas oligarquias que oprimem o povo alagoano.

A sociedade semifeudal alagoana produz uma consciência de mundo propositalmente equivocada. A própria aceitação de qualquer tipo de exploração é parte de uma incompreensão social profunda. Dentro desta contradição ideológica, as religiões são criadas para amortecer as dificuldades e fantasiar um mundo cheio de exploração e opressão.

A religião, ou o sincretismo religioso, no caso de Alagoas mistura crenças cristãs, indígenas e de matriz africana. A única coisa que podemos afirmar com certeza é que, independente da origem da crença religiosa, todas buscam respostas e soluções subjetivas para tratar sobre as reais necessidades do povo, como o direito a terra por exemplo.

A subjetividade, tudo aquilo que não interfere diretamente na realidade concreta, é o objeto principal dentro do pensamento religioso. Enquanto isso, a humanidade deixa de solucionar problemas reais que interferem diretamente em suas vidas.

Enquanto a semifeudalidade existir na sociedade alagoana, o coronelismo e a religiosidade continuarão contribuindo para o seu atraso ideológico. A única coisa que pode solucionar este atraso ideológico e avançar para um pensamento materialista é a radicalização das lutas populares, na cidade e no campo.

Na cidade, os setores que mais podem contribuir para impulsionar as lutas combativas em Alagoas, considerando seu histórico de luta, nível de aceitação popular e número de massa, são os movimentos ligados a educação, movimento de professores e estudantes.

No campo, os movimentos de camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, devido ao seu longo histórico de exploração e opressões sofridas diretamente pelo sistema latifundiário, podem se transformar na principal corrente de transformação política e ideológica para elevar a luta de classes na sociedade semifeudal alagoana.

Mesmo achando normal a exploração semifeudal, temendo as crenças religiosas e sendo dirigido pelo oportunismo eleitoral, o povo alagoano, principalmente a massa de camponeses pobres sem terra, consegue expressar muita combatividade em algumas situações especificas. Isso demonstra que o povo sabe, mesmo que seja de forma inconsciente, que contra todas as injustiças sociais a rebelião se justifica.

Faz-se necessário combater o oportunismo eleitoral, que é cumplice do apadrinhamento coronelista. Organizar movimentos que trabalhem em torno de princípios de combatividade e independência da velha ordem social. Impulsionar verdadeiras lutas de resistência contra as injustiças cometidas contra o povo, no campo e na cidade.

Trabalhar incansavelmente por uma nova cultura, que exalte as história do povo alagoano e suas conquistas. A radicalização das lutas populares, principalmente nas resistências camponesas, pode ensinar ao povo alagoano que ele é o único que pode mudar verdadeiramente sua realidade.

Contudo, ainda que se avance na luta para impulsionar a destruição da semifeudalidade em Alagoas, não existirá garantia nenhuma que este atraso volte a se manifestar de forma predominante na sociedade. O atraso social, a semifeudalidade alagoana, que também se desenvolve por outras regiões do Brasil é um modelo social muito vantajoso para explorar as forças produtivas ao extremo e conseguir lucro absoluto. Por isso, o latifúndio, a grande burguesia e o imperialismo norte-americano, se esforçam tanto para impedir a democratização do espaço agrário e o desenvolvimento de uma economia autenticamente nacional.

Destruir a seifeudalidade em Alagoas requer uma luta articulada pela completa destruição de toda sociedade semifeudal e semicolonial, serviçal do imperialismo, que hegemoniza as principais relações políticas, econômicas e sociais no Brasil.


Saudações!

J. Santos

Maceió, Alagoas
23 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

COMBATE

I

Olhos atentos e peito acelerado
É dia de manifestação
Na recusa do passado
Enfrentamos o Caveirão

II

Da pedra crua ao aço bruto
A liberdade pede passagem
Na história forjada com tumulto
Contra as repressões o povo reage

III

De uma fauna de guerreiros
Uma flora bem colorida
De lutadores somos herdeiros
De lutas nunca esquecidas

IV

O calor das barricadas me aquece
Os rojões explodem nos escudos
Mais uma vez o dia amanhece
Mais uma vez precisamos mudar tudo

V

Avante bravos combatentes
Vamos romper a velha ordem
Apresentando um novo presente

Faremos com que outros acordem

(J. Santos)

BACULEJO (3x4)

I

Noite quente e vento forte
As vezes é descuido
As vezes é falta de sorte

II

Xingamentos e empurrões
Passei muitas madrugadas
Grudado nos paredões

III

Pintura a dedo não é legal
Nem a sela apertada
Que cheira tão mal

IV

3 por 4 no fichamento
Marcando aquele Baculejo
De uma longa noite de tormento

(J. Santos)


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A DECADÊNCIA DOS "HERÓIS" DO PT: SOBRE A REALIDADE DE ALAGOAS

Em 2007, o então gerente de turno da semicolônia imperialista, Luís Inácio Lula (PT) chamou os usineiros, latifundiários da monocultura da cana para produção de açúcar e álcool, de “heróis da economia brasileira”. Com este comentário, Lula reforçou sua dependência ao sistema semifeudal existente no Brasil, ao  elogiar os descendentes dos antigos senhores de engenho, coronéis dos interiores do país, agora conhecidos como empreendedores do “agronegócio” ou simplesmente latifundiários de novo tipo.

Em Alagoas, os senhores de engenho que oprimiram por séculos os negros e índios desta terra durante o período da escravidão brasileira, se perpetuaram com a evolução tecnológica das indústrias sucroalcooleiras. A existência destas indústrias não diminuíram a exploração semifeudal dos trabalhadores na cidade e no campo. Os usineiros se tornaram financiadores da política oligárquica existente nos municípios alagoanos, quando não se lançam eles próprios aos cargos públicos apresentados no processo da farsa eleitoral do velho Estado.

Desde dos anos 90, os usineiros vinham em decadência, crises intermináveis acompanhadas de constantes ocupações realizadas por camponeses pobres em suas supostas propriedades rurais. O velho Estado por sua vez sempre favoreceu estes senhores a resistir as crises financeiras, concedendo empréstimos milionários para quitar dividas estratosféricas, julgamentos brandos e militares para conter as ocupações de terra.

Porém, entre os anos de 2013 e 2014, a situação se tornou insustentável. Mesmo com apelos ao Banco do Brasil para mais um empréstimo, nada foi adiante devido ao alto risco de mais um grande calote. O velho Estado não teve mais condições de acudir seus “herois”.

Quem sofreu foram as massas trabalhadoras com meses de salários atrasados, a pelegagem de seus sindicatos e a brutalidade da repressão policial. Os usineiros migraram para outras regiões do país onde possuem outros latifúndios que exploram outros trabalhadores de tantas outras formas.

Nas cidades, a política sofreu uma maquiação, políticos há muito desgastados com a figura de coronéis começaram a perder as eleições farsantes. Porém, os novos mandatários políticos não tardaram em amarrar seus bigodes com as velhas relações políticas semifeudais no estado de Alagoas.

A crise das usinas tem se agravado inclusive nos setores públicos. Com diminuição dos FPM’s (fundo de participação dos municípios), o programa Bolsa Família se tornou mais fragilizado. A esmola já não engana mais tanto quanto antes. No inicio de 2014, cidades pacatas como Atalaia e União dos Palmares sofreram inúmeras manifestações populares. O povo cobrava as casas prometidas depois da enchente de 2010, empregos, os salários atrasados das prefeituras, as garantias trabalhistas das usinas falidas, segurança, saúde, transporte, etc. De fechamentos de rodovias federais até ocupações de prefeituras, o povo têm lutado como há muito tempo não tinha se visto em Alagoas.

Um fato interessante é que em todas estas manifestações populares ocorridas em Alagoas, os partidos oportunistas, seus movimentos e sindicatos traidores foram escorraçados pela fúria popular.

Todos estes fatores reunidos, falência das usinas, crise nas prefeituras e desilusão com os partidos oportunistas, proporcionaram o maior rechaço a farsa eleitoral do estado de Alagoas. Como exemplo o próprio governador, Renan Filho (PMDB), que ficou em segundo lugar depois de receber menos votos do que os votos brancos, nulos e abstenções. Fato que também ocorreu com o ex-governador e ex-presidente Fernando Collor de Melo (PTB).

O que percebemos para o ano de 2015 é que o velho Estado vem aumentado a repressão contra o pequenos trabalhadores no campo e na cidade. Praticamente toda reintegração de posse no campo se faz uso da violência policial, na cidade é difícil existir um dia em que não tenha conflitos nas ruas do centro de Maceió entre PM’s e camelôs.


Os “heróis” de Lula não estão conseguindo salvar a própria pele dentro desta crise estrutural de seu sistema podre. O povo segue sua luta, por hora pode até está em relativa desvantagem devido ao grande aparato repressivo que o velho estado tem movimentado contra ele. Mas, logo as massas do campo e da cidade irão se erguer em fúria contra todas as injustiças cometidas contra os trabalhadores alagoanos e como um trovão numa noite fria romper os grilhões de classe que ainda nos escraviza.

(J. Santos)

"NÃO VAMOS ABAIXAR A CABEÇA"

(Homenagem ao estudante de Geografia e ativista político Igor Mendes, preso pelo crime de servir ao povo de todo o coração)



 I
Um fantasma ronda as ruas do Brasil
O grande fantasma da justa rebelião
Prendem dez e se levantam mil
Preparam uma Grande Revolução
II
Um estudante revolucionário foi detido
Em meio de tantos outros veio sua prisão
Mesmo preso e algemado segue de punho erguido
Juntos com os seus, declara: “Não passarão...”
III
Nos porões da nova ditadura escondem nosso irmão
Corre pelo mundo um grito de liberdade
No campo e na cidade exigem sua libertação
O velho Estado teme o fim de sua sociedade
IV
Seguir teu exemplo é uma tarefa gloriosa
Não baixaremos nossas cabeças
Atenderemos teu pedido de forma honrosa

Seguiremos a luta até que este mundo despareça!

(J. Santos)