As relações políticas e
econômicas existentes na sociedade semifeudal alagoana são marcadas por “acordos”
extraoficiais. Interessante perceber que estes assemelham-se ao antigo regime
de vassalagem. No coronelismo, da semifeudalidade alagoana, convém chamar esta
relação de apadrinhamento. O latifundiário que financia uma campanha eleitoral,
comprando de votos para eleger seu representante direto dentro do velho Estado,
é um exemplo de apadrinhamento político. Os empréstimos realizados com dinheiro
do povo para salvar os latifundiários de suas crises financeiras, é um exemplo
de apadrinhamento na economia.
O histórico marcado por
repressões brutais contra as lutas populares em Alagoas favoreceu a existência
deste apadrinhamento semifeudal também nas relações sociais. Quando as pessoas
sentem-se agradecidas pela demagogia do sistema coronelista, mesmo tendo conhecimento
que são exploradas e oprimidas por este regime atrasado, é um exemplo de
apadrinhamento social.
Algumas das razões pelas
quais o povo ainda não se mobilizar de forma combativa para destruir este
sistema semifeudal são principalmente de origem político-ideológica. Político,
devido ao oportunismo eleitoral dos partidos, movimentos e sindicatos que
pregam um caminho de conciliação para solucionar as contradições antagônicas
entre as classes sociais. Ideológico, devido a um histórico de violência estatal
contra o povo pobre e a religiosidade que condena as lutas radicais.
Considerando que grande
parte da população alagoana é submetida a uma péssima condição de ensino e
aprendizado, a mídia burguesa ainda não interfere diretamente no pensamento da
população alagoana. Mesmo que se desenvolva a educação e o senso crítico da
população, ainda sim, esta mídia jamais poderá contribuir para o avanço da luta
popular, pois é sustentada pelas velhas oligarquias que oprimem o povo alagoano.
A sociedade semifeudal
alagoana produz uma consciência de mundo propositalmente equivocada. A própria aceitação
de qualquer tipo de exploração é parte de uma incompreensão social profunda.
Dentro desta contradição ideológica, as religiões são criadas para amortecer as
dificuldades e fantasiar um mundo cheio de exploração e opressão.
A religião, ou o sincretismo
religioso, no caso de Alagoas mistura crenças cristãs, indígenas e de matriz
africana. A única coisa que podemos afirmar com certeza é que, independente da
origem da crença religiosa, todas buscam respostas e soluções subjetivas para tratar
sobre as reais necessidades do povo, como o direito a terra por exemplo.
A
subjetividade, tudo aquilo que não interfere diretamente na realidade concreta,
é o objeto principal dentro do pensamento religioso. Enquanto isso, a
humanidade deixa de solucionar problemas reais que interferem diretamente em
suas vidas.
Enquanto a semifeudalidade
existir na sociedade alagoana, o coronelismo e a religiosidade continuarão
contribuindo para o seu atraso ideológico. A única coisa que pode solucionar
este atraso ideológico e avançar para um pensamento materialista é a
radicalização das lutas populares, na cidade e no campo.
Na cidade, os setores que
mais podem contribuir para impulsionar as lutas combativas em Alagoas,
considerando seu histórico de luta, nível de aceitação popular e número de
massa, são os movimentos ligados a educação, movimento de professores e
estudantes.
No campo, os movimentos de
camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, devido ao seu longo histórico
de exploração e opressões sofridas diretamente pelo sistema latifundiário,
podem se transformar na principal corrente de transformação política e
ideológica para elevar a luta de classes na sociedade semifeudal alagoana.
Mesmo achando normal a
exploração semifeudal, temendo as crenças religiosas e sendo dirigido pelo
oportunismo eleitoral, o povo alagoano, principalmente a massa de camponeses
pobres sem terra, consegue expressar muita combatividade em algumas situações especificas.
Isso demonstra que o povo sabe, mesmo que seja de forma inconsciente, que
contra todas as injustiças sociais a rebelião se justifica.
Faz-se necessário combater o
oportunismo eleitoral, que é cumplice do apadrinhamento coronelista. Organizar
movimentos que trabalhem em torno de princípios de combatividade e
independência da velha ordem social. Impulsionar verdadeiras lutas de
resistência contra as injustiças cometidas contra o povo, no campo e na cidade.
Trabalhar incansavelmente
por uma nova cultura, que exalte as história do povo alagoano e suas conquistas.
A radicalização das lutas populares, principalmente nas resistências
camponesas, pode ensinar ao povo alagoano que ele é o único que pode mudar
verdadeiramente sua realidade.
Contudo, ainda que se avance
na luta para impulsionar a destruição da semifeudalidade em Alagoas, não existirá
garantia nenhuma que este atraso volte a se manifestar de forma predominante na
sociedade. O atraso social, a semifeudalidade alagoana, que também se desenvolve
por outras regiões do Brasil é um modelo social muito vantajoso para explorar
as forças produtivas ao extremo e conseguir lucro absoluto. Por isso, o latifúndio,
a grande burguesia e o imperialismo norte-americano, se esforçam tanto para
impedir a democratização do espaço agrário e o desenvolvimento de uma economia autenticamente nacional.
Destruir a seifeudalidade em
Alagoas requer uma luta articulada pela completa destruição de toda sociedade
semifeudal e semicolonial, serviçal do imperialismo, que hegemoniza as principais
relações políticas, econômicas e sociais no Brasil.
Saudações!
J. Santos
Maceió, Alagoas
23 de Dezembro de 2014