quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

GROTAS DE MACEIÓ: Algumas observações geográficas

Para ter uma descrição minimamente justa sobre tudo que significa estas áreas, faz-se necessário observar que a maioria das famílias que vivem nestas são de origem camponesa, que por medo ou ilusão foram empurradas para o convívio urbano sem nenhum planejamento.
Geralmente, estas comunidades periféricas começam a existir através de ocupações realizadas de forma espontânea por grupos familiares que migram do interior do estado, constroem moradias, pontes, fossas rudimentares, escadas, ligam água e luz.

Na maioria das vezes, o inicio da ocupação é marcado por mutirões comunitários, o Estado e seus representantes políticos pouco fazem para que as pessoas que vivem nas grotas de Maceió vivam com dignidade. A principal representação do Estado nas grotas de Maceió são as ações fascistas da polícia; “baculejos”, xingamentos, espancamentos, prisões, etc.

A juventude, principalmente os jovens negros, que vive nas grotas e demais periferias de Maceió são alvos ambulantes de todo tipo de mazelas sociais existentes; falta de educação, falta de saúde, tráfico de drogas, prostituição, discriminação social e violência policial.

As grotas, como popularmente são conhecidas em Maceió, são comunidades periféricas construídas em áreas de vale. O mapa do relevo da Capital alagoana é favorável a existência destas áreas, porque se divide entre planaltos e vales, tabuleiros e grotas.

A sociedade que se desenvolve nestas grotas, possuí inúmeras contradições não-antagônicas. Independente de qualquer grupo social que as pessoas façam parte, todas se sentem unidas diante da repressão que sofrem das forças policiais do velho Estado e da discriminação social propagandeada pelos programas fascistas de rádio e TV.

Os altos níveis de exploração trabalhista, que a maioria da população das grotas é submetida, vendendo sua força de trabalho em serviços arriscados, baixos salários, sem limite de carga horária nem as mínimas garantias sociais, impossibilitam as oportunidades de levar a família para assistir um cinema, um teatro, etc. O pouco tempo de lazer dos trabalhadores das grotas é aproveitado para se anestesiar da realidade.

Apesar de todas as opressões de classe que existem contra o povo pobre que vive nas grotas de Maceió, a juventude resiste e se manifesta culturalmente de várias formas alternativas. Grupos de hip hop e de reggae são alguns exemplos de manifestação cultural nas grotas.

A resistência vem de baixo. Mesmo que de forma inconsciente, as pessoas que vivem nas grotas de Maceió, jovens, velhos, homens, mulheres, preto, branco, crente, ateu, gay, hetero, trabalhadores empregados ou desempregados, todas realizam um grande trabalho de resistência contra a sociedade semifeudal alagoana que teima em persegui-los e criminaliza-los, mas diante de todas as opressões a grota resiste e poderá evoluir bastante quando tomarem consciência de tudo que representam.

J. Santos
Janeiro de 2015

Maceió - Alagoas

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

SOBRE A REALIDADE CUBANA



      I.        Que tipo de Revolução existiu em Cuba?

Até o presente momento o povo cubano já realizou duas grandes lutas por libertação do seu povo. A independência do colonialismo espanhol (xxxx) e a libertação do julgo imperialista norte-americano (1957). 

A luta por Libertação Nacional que existiu em Cuba, apesar de seguir um desvio militarista, pode ser dividida em dois pontos:

MILITAR; Guerra de guerrilhas, com participação massiva de camponeses pobres, tendo como base a reforma agrária e a soberania nacional;

POLÍTICO; Apoio de setores independentes da Burguesia Nacional e da Pequena Burguesia – Médicos, Engenheiros, Advogados, Professores e Estudantes;

O Partido Comunista de Cuba (PCC) criticou a luta armada pela libertação nacional até o momento que esta se tornou irreversível e vitoriosa. Uma posição no mínimo oportunista.

As dificuldades em aplicar o socialismo científico ao Estado que se formou após a sua Libertação Nacional, impossibilitou que Cuba desenvolvesse diversos aspectos de sua sociedade, inclusive nas contribuições internacionais para as lutas do proletariado.

    II.        Que tipo de Estado se formou em Cuba após a Libertação Nacional?

O PCC se aproximou do Governo Revolucionário para intermediar as conversações com a URSS revisionista, uma vez que o próprio PC de Cuba também já havia traído o comunismo bem antes do triunfo da Libertação Nacional.

Antes de Cuba conquistar sua liberdade, frente a ditadura civil-militar de Batista/EUA, em 1956, houve o XX Congresso do PCUS onde Krushov traidor iniciou sua campanha de difamação contra a memória do camarada Stalin e a restauração capitalista no Estado soviético.

Naquele momento histórico, os revisionistas, falsos comunistas, traidores da revolução que dirigiam o PCUS estavam mais preocupados em rivalizar economicamente com as potencias imperialistas, principalmente os EUA, do que incentivar e apoiar as revoluções do proletariado internacional.

Em 1957, Cuba se liberta do julgo imperialista e busca apoio na URSS, que já se encontrava na condição de social-imperialista. Porém, a exploração semifeudal e semicolonial permanece inalterada para o povo cubano, principalmente para os camponeses pobres.

O revisionismo, na cabeça do Estado revolucionário de Cuba, apontava a luta contra o imperialismo como a contradição principal nos países da América Latina. Mas, jamais se preocupou em estudar que as contradições internas de cada nação, como a existência do latifúndio e a exploração semifeudal, são as que permitem a exploração semicolonial do imperialismo. Por isso, todas as investidas políticas e militares do Estado cubano, em apoio às lutas dos povos latino americanos, não vingaram.

   III.        Como o Capitalismo Burocrático permaneceu e se desenvolveu na sociedade cubana?

Duas coisas contribuíram seriamente para a manutenção do atraso social cubano; Primeiro, não solucionou o problema da questão agrária; Segundo, sua referência política e ideológica de Estado Socialista estava vivenciando uma restauração capitalista;

Cuba deixou de ser uma nação explorada pelo imperialismo dos EUA, que financiava uma ditadura fascista no país, para ser uma nação explorada pelo social-imperialismo da URSS, que vivia uma restauração capitalista.

De 1959 a 1963, aconteceram as expropriações das grandes propriedades, a distribuição de pequenas propriedades para os camponeses pobres sem terra e a criação de setor estatal responsável pela agricultura.

De 1963 a 1970, implanta-se um modelo agrícola exclusivo para servir aos interesses do mercado da URSS revisionista. Este modelo foi chamado de “Adequações Socialistas”. O aumento de cultivo da cana de açúcar para atingir 10 milhões de toneladas, com finalidade de exportação. Com isso a soberania alimentar ficou debilitada, a democracia da terra limitada, pois os camponeses tinham a posse da terra, mas não podiam decidir o que plantar nela.

A partir de 1970 a URSS começa a diminuir os contratos econômicos com o Estado cubano e isso prejudica a safra da cana. Porém, diante desta crise produtiva, inicia-se uma extensão tecnológica. O governo defendia que isto serviria para evitar a exploração dos trabalhadores e evoluir a produção ostensiva, mas na prática serviu com um filtro, onde quem não se adequou as novas tecnologias teve que entregar suas pequenas posses para os dirigentes estatais.

Entre 1975 a 1985 houve a criação de um novo sistema agrícola, com uma economia centralizada pelo Estado, ou seja, a política agrícola era determinada pelos dirigentes cubanos localizados em Havana, enquanto os camponeses pobres perdiam suas terras e quando as tinha não decidia sobre a mesma. Isso permitiu que voltasse a existir um sistema latifundiário, sustentado pela gerência estatal de uma Burguesia Burocrática emergente.

De 1985 a 1993, uma tentativa de retificação. Ao que parece, existiu uma luta dos setores mais honestos do Estado cubano contra o aparecimento de velhas opressões no seio da sociedade. Abriu-se a campanha pela “Retificação dos erros” (nos setores produtivos) e contra as “Tendências negativas” (nos setores políticos e econômicos). Até no momento de uma luta tão importante, as intervenções vieram de maneira tímida. A vaidade dos honestos não contribuiu para o combate ao oportunismo dentro do Estado cubano.

No período atual, Cuba volta a discutir a superação de sua crise produtiva. Mas, não se discute suas questões políticas e ideológicas. Por exemplo, como permitiram a volta do gamonalismo (coronelismo no Brasil), ainda mais sustentado por setores do próprio Estado?

A Burguesia Burocrática que emergiu em Cuba durante o seu “Regime Socialista”, enriquecendo a partir das explorações semiservis, proporcionadas pelo próprio Estado cubano. Por exemplo, Na exaustão das forças produtivas, sem nenhuma tecnologia, para servir aos interesses social-imperialista da URSS; Na falta de liberdade das famílias camponesas decidirem sobre suas produções; Nas expropriações dos pequenos camponeses e no favorecendo a existência dos latifúndios cooperativados;

Acredita-se que a chegada de Raul Castro ao poder tenha representado a virada da Burguesia Burocrática dentro do Estado cubano. Desde 2008, desenvolve-se uma descentralização da política agrária em Cuba. As cooperativas, que formam latifúndios estatais e exploram mão de obra semiserviu, estão sendo divididas entre grupos de poder locais.

A Grande Burguesia cubana não quer mais apenas explorar a renda da terra e os poucos recursos estatais, ela quer especular sobre estes setores já existentes e desenvolver novas formas de exploração. Ela não quer ser apenas Burocrática, também quer ter status de Compradora e sabe que isso só será possibilitado com a presença do Capital estrangeiro explorando o país novamente.

  IV.        O que significa esta “reconciliação” entre Cuba e EUA?

Mesmo não sendo um Estado Socialista, mas sim um Estado Libertado do Imperialismo, esta “reconciliação” entre Cuba e EUA é um ato de capitulação frente ao imperialismo. O país voltará a sua antiga condição de país semifeudal, com uma economia agrária, com sistema de latifundiário gamonalista (coronelista) e semicolonial, subserviente aos mandos políticos e econômicos dos EUA, sem autoridade para decidir sobre os rumos de sua própria nação; 

O diferencial de já ter sido um Estado que se libertou do julgo imperialista e ter capitulado, sem ter avançado na construção do socialismo científico, elevou os sacrifícios que as próximas gerações de revolucionários cubanos terão que enfrentar. Mas, isso tudo não intimida a necessidade histórica de transformação da humanidade. O povo cubano saberá responder, no tempo certo, a esta capitulação de sua luta histórica por um Novo Mundo.

As vitórias do proletariado, na luta por sua libertação e destruição de todas as formas de opressão, são iguais o ato de semear, ás vezes semeamos revoluções proletárias e libertadoras, mas nem sempre colhemos Socialismo Científico. Por isso, é necessário manter a Luta de Classes, inclusive no Estado Socialista, realizando quantas revoluções culturais forem necessárias. Não teremos uma Nova Economia se não tivermos uma Nova Política e uma Nova Cultura, defendidas pelo proletariado através de seu Partido de Classe, seu Exercito e sua Frente Única, isso serve para Cuba e todos os países latinos.

Viva ao povo cubano!
Abaixo a capitulação do Estado cubano!
“Hasta la vitória siempre”



J. Santos

A POLÍTICA FASCISTA DO CORONELISMO E AS CONTRIBUIÇÕES DO OPORTUNISMO ELEITORAL EM ALAGOAS



Observando a sociedade alagoana e seu desenvolvimento social atrasado, representado principalmente pela existência do latifúndio e do coronelismo, é possível identificar o caráter fascista das ações realizadas pelos latifundiários e seus bandos armados, acobertados pelo velho Estado.

Muitas vezes o termo fascismo é vulgarizado, utilizado apenas para referirem-se as ditaduras burguesas militaristas, mas na verdade o fascismo é presente também nas ditaduras burguesas civis, ou nos regimes demo-liberais como acontecem no Brasil.

O aumento das ocupações militares em comunidades periféricas na cidade, das ações de despejo no campo e das prisões de ativistas políticos é um exemplo de fascismo dentro do velho Estado. O que caracteriza o fascismo é o poder policial que as instituições públicas, a mídia burguesa e as organizações políticas cada vez mais exercem contra a luta popular democrática.

Também é possível perceber a vulgarização do termo coronelismo, apresentado apenas como uma prática de compra de votos nas eleições farsantes, esta forma de apresentação é muito utilizada pelos partidos de “esquerda”, oportunistas eleitorais em geral e revisionistas do marxismo em particular.

O coronelismo, representado por um regime latifundiário. Onde o latifundiário ou o “coronel”, tem status de autoridade política, econômica e policial perante a sociedade semifeudal que se baseia, principalmente, na concentração da renda da terra de forma absoluta. Grandes propriedades rurais garantem o Poder de Estado ao coronel. Com este poder, financiam campanhas eleitorais farsantes, exploram as massas de camponeses pobres de forma semiserviu e executam torturas, prisões e assassinatos daqueles que se opõe aos seus interesses.

Os crimes cometidos pelos latifundiários e seus bandos armados, contra camponeses pobres em luta pela terra, poderia inaceitáveis para as leis do velho Estado, isso não acontece porque os crimes dos latifundiários coronelistas são complemento da política opressora das classes exploradoras da sociedade semifeudal alagoana. O que caracteriza a política fascista do coronelismo é sua relação de poder, principalmente, como autoridade policial e judiciária, consentida pelo velho Estado. 

O Estado e suas instituições, dentro da semifeudalidade alagoana, existem apenas para assegurar o poderio dos coronéis. Quando os coronéis devem milhões, o executivo e o legislativo disponibilizam os recursos públicos para salvá-los. Sempre que uma grande propriedade rural é ocupada por famílias camponesas, mesmo sem nenhuma comprovação que legitime sua propriedade, a “justiça” envia tropas militares para despejar as famílias e destruir suas produções em favor dos latifundiários. Mesmo quando os coronéis e seus bandos armados realizam algum crime, na maioria das vezes são inocentados, no máximo não são responsabilizados diretamente, sempre existe um pistoleiro para servir de “bode expiatório” em troca de dinheiro.

Os oportunistas eleitorais atuam em várias organizações de trabalhadores no campo e na cidade, criticam as compras de votos pelos coronéis e a formação de seus “currais eleitorais”. No fundo, fazem isso, porque invejam os coronéis e não conseguem fazer o mesmo. Estes oportunistas tentam formam seus próprios currais eleitorais no seio do movimento popular. Posam de “lutadores do povo”, mas seguem os mesmos princípios políticos das classes que oprimem o povo alagoano. Acreditam que irão acabar com o coronelismo através de eleições farsantes, dirigidas pelo velho Estado que serve aos interesses dos latifundiários, e desprezam a luta camponesa em pleno estado de Alagoas.

Se a base do coronelismo é essencialmente a renda da terra na forma do sistema latifundiário, para acabar com o coronelismo precisa-se lutar para destruir o latifúndio e estabelecer uma Nova Democracia a partir do campo. É no campo onde as contradições com o coronelismo são mais evidentes e onde existe a massa de trabalhadores com mais disposição para destruir o poderio deste sistema opressor, o campesinato.

A maioria dos movimentos de luta pela terra em Alagoas defende a linha política da Reforma Agrária. Esta linha política vem tomando uma direção cada vez pior. Primeiro, defendia que; “A luta pela terra se conquista na cidade”. João Pedro Stedile, presidente do MST e principal representante da política reformista, já afirmou que; “Ocupar terra não soma mais aliados”.

O campesinato alagoano sofre com o oportunismo eleitoral em suas direções. Estas direções oportunistas, atuam como conciliadores da luta de classes, melhor do que a própria polícia. Fazem discursos inflamados pelos direitos do povo, mas não preparam nenhuma luta de forma combativa pela resistência camponesa, antes se esforçam para disseminar o terror na cabeça dos camponeses e fazê-los desistir das lutas radicais, na ânsia por negociar “soluções pacificas” que rendem elogios e dinheiro dos coronéis.

O oportunismo eleitoral fortalece a permanência do sistema latifundiário, do coronelismo e da semifeudalidade no estado de Alagoas, porque não busca destruir as relações atrasadas que sustentam todas estas formas de opressão, estão mais interessados em fazer demagogia no máximo assistencialismo. Todo oportunista eleitoral é um sabotador da luta popular, seja no campo ou na cidade.

A massa camponesa, mesmo de forma inconsciente, sabe que não vão ser eleições farsantes que vão destruir o coronelismo nem que as lutas principais serão na cidade. O que precisa é tomar todas as terras dos coronéis e combatê-los onde o poder do velho Estado é relativamente mais fraco, no campo. Apenas a combatividade dos camponeses alagoanos poderá por um fim no coronelismo e em suas ações fascistas, abrindo um novo tempo para transformações sociais cada vez mais profundas. Para tanto, é indispensável combater o oportunismo eleitoral no seio das organizações populares, principalmente no movimento camponês.


J. Santos